terça-feira, 15 de janeiro de 2013



O Pagem de Espadas



     Tentei por horas e dias ir além com este texto. O único que consegui, foi dizer que um Pagem de Espadas quando entra em nossa vida, ele trás à tona olhares verídicos sobre a intenção dos outros. Ele expõe, coloca para fora, deixa a mostra, um mar de verdades - mesmo que provisória. Ele acusa, aponta, fala, mostra; e, só não vê quem está à margem de uma sociedade hipócrita.
        Deixo a escrita com João Paulo Emílio Coelho Barreto ou como preferia ser conhecido João do Rio.  






O homem de cabeça de papelão



João do Rio




“No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social.


O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os habitantes afluíam todos para a capital, composta de praças, ruas, jardins e avenidas, e tomavam todos os lugares e todas as possibilidades da vida dos que, por desventura, eram da capital. De modo que estes eram mendigos e parasitas, únicos meios de vida sem concorrência, isso mesmo com muitas restrições quanto ao parasitismo. Os prédios da capital, no centro elevavam aos ares alguns andares e a fortuna dos proprietários, nos subúrbios não passavam de um andar sem que por isso não enriquecessem os proprietários também. Havia milhares de automóveis à disparada pelas artérias matando gente para matar o tempo, cabarets fatigados, jornaistramways, partidos nacionalistas, ausência de conservadores, a Bolsa, o Governo, a Moda, e um aborrecimento integral. Enfim tudo quanto a cidade de fantasia pode almejar para ser igual a uma grande cidade com pretensões da América. E o povo que a habitava julgava-se, além de inteligente, possuidor de imenso bom senso. Bom senso! Se não fosse a capital do País do Sol, a cidade seria a capital do Bom Senso!

  



Tarôs:  Smith-Waite; Morgan-Greer; Jolanda; Romani




Precisamente, por isso, Antenor, apesar de não ter importância alguma, era exceção mal vista. Esse rapaz, filho de boa família (tão boa que até tinha sentimentos), agira sempre em desacordo com a norma dos seus concidadãos.


Desde menino, a sua respeitável progenitora descobriu-lhe um defeito horrível: Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira. Alarmada, a digna senhora pensou em tomar providências. Foi-lhe impossível. Antenor era diverso no modo de comer, na maneira de vestir, no jeito de andar, na expressão com que se dirigia aos outros. Enquanto usara calções, os amigos da família consideravam-no um enfant terrible, porque no País do Sol todos falavam francês com convicção, mesmo falando mal. Rapaz, entretanto, Antenor tornou-se alarmante. Entre outras coisas, Antenor pensava livremente por conta própria. Assim, a família via chegar Antenor como a própria revolução; os mestres indignavam-se porque ele aprendia ao contrario do que ensinavam; os amigos odiavam-no; os transeuntes, vendo-o passar, sorriam.

Uma só coisa descobriu a mãe de Antenor para não ser forçada a mandá-lo embora: Antenor nada do que fazia, fazia por mal. Ao contrário. Era escandalosamente, incompreensivelmente bom. Aliás, só para ela, para os olhos maternos. Porque quando Antenor resolveu arranjar trabalho para os mendigos e corria a bengala os parasitas na rua, ficou provado que Antenor era apenas doido furioso. Não só para as vítimas da sua bondade como para a esclarecida inteligência dos delegados de polícia a quem teve de explicar a sua caridade.

Com o fim de convencer Antenor de que devia seguir os tramitas legais de um jovem solar, isto é: ser bacharel e depois empregado público nacionalista, deixando à atividade da canalha estrangeira o resto, os interesses congregados da família em nome dos princípios organizaram vários meetings como aqueles que se fazem na inexistente democracia americana para provar que a chave abre portas e a faca serve para cortar o que é nosso para nós e o que é dos outros também para nós. Antenor, diante da evidência, negou-se.

— Ouça! bradava o tio. Bacharel é o princípio de tudo. Não estude. Pouco importa! Mas seja bacharel! Bacharel você tem tudo nas mãos. Ao lado de um político-chefe, sabendo lisonjear, é a ascensão: deputado, ministro.

— Mas não quero ser nada disso.

— Então quer ser vagabundo?

— Quero trabalhar.

— Vem dar na mesma coisa. Vagabundo é um sujeito a quem faltam três coisas: dinheiro, prestígio e posição. Desde que você não as tem, mesmo trabalhando — é vagabundo.

— Eu não acho.

— É pior. É um tipo sem bom senso. É bolchevique. Depois, trabalhar para os outros é uma ilusão. Você está inteiramente doido.

Antenor foi trabalhar, entretanto. E teve uma grande dificuldade para trabalhar. Pode-se dizer que a originalidade da sua vida era trabalhar para trabalhar. Acedendo ao pedido da respeitável senhora que era mãe de Antenor, Antenor passeou a sua má cabeça por várias casas de comércio, várias empresas industriais. Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua. Por que mandavam embora Antenor? Ele não tinha exigências, era honesto como a água, trabalhador, sincero, verdadeiro, cheio de idéias. Até alegre — qualidade raríssima no país onde o sol, a cerveja e a inveja faziam batalhões de biliosos tristes. Mas companheiros e patrões prevenidos, se a princípio declinavam hostilidades, dentro em pouco não o aturavam. Quando um companheiro não atura o outro, intriga-o. Quando um patrão não atura o empregado, despede-o. É a norma do País do Sol. Com Antenor depois de despedido, companheiros e patrões ainda por cima tomavam-lhe birra. Por que? É tão difícil saber a verdadeira razão por que um homem não suporta outro homem!

Um dos seus ex-companheiros explicou certa vez:

— É doido. Tem a mania de fazer mais que os outros. Estraga a norma do serviço e acaba não sendo tolerado. Mau companheiro. E depois com ares...

O patrão do último estabelecimento de que saíra o rapaz respondeu à mãe de Antenor:

— A perigosa mania de seu filho é por em prática idéias que julga próprias.

— Prejudicou-lhe, Sr. Praxedes?

Não. Mas podia prejudicar. Sempre altera o bom senso. Depois, mesmo que seu filho fosse águia, quem manda na minha casa sou eu.

No País do Sol o comércio é uma maçonaria. Antenor, com fama de perigoso, insuportável, desobediente, não pôde em breve obter emprego algum. Os patrões que mais tinham lucrado com as suas idéias eram os que mais falavam. Os companheiros que mais o haviam aproveitado tinham-lhe raiva. E se Antenor sentia a triste experiência do erro econômico no trabalho sem a norma, a praxe, no convívio social compreendia o desastre da verdade. Não o toleravam. Era-lhe impossível ter amigos, por muito tempo, porque esses só o eram enquanto. não o tinham explorado.






 Tarô: Maddonni


  
 Antenor ria. Antenor tinha saúde. Todas aquelas desditas eram para ele brincadeira. Estava convencido de estar com a razão, de vencer. Mas, a razão sua, sem interesse chocava-se à razão dos outros ou com interesses ou presa à sugestão dos alheios. Ele via os erros, as hipocrisias, as vaidades, e dizia o que via. Ele ia fazer o bem, mas mostrava o que ia fazer. Como tolerar tal miserável? Antenor tentou tudo, juvenilmente, na cidade. A digníssima sua progenitora desculpava-o ainda.



— É doido, mas bom.

Os parentes, porém, não o cumprimentavam mais. Antenor exercera o comércio, a indústria, o professorado, o proletariado. Ensinara geografia num colégio, de onde foi expulso pelo diretor; estivera numa fábrica de tecidos, forçado a retirar-se pelos operários e pelos patrões; oscilara entre revisor de jornal e condutor de bonde. Em todas as profissões vira os círculos estreitos das classes, a defesa hostil dos outros homens, o ódio com que o repeliam, porque ele pensava, sentia, dizia outra coisa diversa.

— Mas, Deus, eu sou honesto, bom, inteligente, incapaz de fazer mal...

— É da tua má cabeça, meu filho.

— Qual?

— A tua cabeça não regula.

— Quem sabe?

Antenor começava a pensar na sua má cabeça, quando o seu coração apaixonou-se. Era uma rapariga chamada Maria Antônia, filha da nova lavadeira de sua mãe. Antenor achava perfeitamente justo casar com a Maria Antônia. Todos viram nisso mais uma prova do desarranjo cerebral de Antenor. Apenas, com pasmo geral, a resposta de Maria Antônia foi condicional.

— Só caso se o senhor tomar juízo.

— Mas que chama você juízo?

— Ser como os mais.

— Então você gosta de mim?

— E por isso é que só caso depois.

Como tomar juízo? Como regular a cabeça? O amor leva aos maiores desatinos. Antenor pensava em arranjar a má cabeça, estava convencido.

Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma "relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão". Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo.

— Traz algum relógio?

— Trago a minha cabeça.

— Ah! Desarranjada?

— Dizem-no, pelo menos.

— Em todo o caso, há tempo?

— Desde que nasci.

— Talvez imprevisão na montagem das peças. Não lhe posso dizer nada sem observação de trinta dias e a desmontagem geral. As cabeças como os relógios para regular bem...

Antenor atalhou:

— E o senhor fica com a minha cabeça?

— Se a deixar.

— Pois aqui a tem. Conserte-a. O diabo é que eu não posso andar sem cabeça...

— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe uma de papelão.

— Regula?

— É de papelão! explicou o honesto negociante. Antenor recebeu o número de sua cabeça, enfiou a de papelão, e saiu para a rua.

Dois meses depois, Antenor tinha uma porção de amigos, jogava o pôquer com o Ministro da Agricultura, ganhava uma pequena fortuna vendendo feijão bichado para os exércitos aliados. A respeitável mãe de Antenor via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porem, estimavam-no, e os companheiros tinham garbo em recordar o tempo em que Antenor era maluco.

  



 Tarô: Etteilla




Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Maria Antônia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. Outras Marias ricas, de posição, eram de opinião da primeira Maria. Ele só tinha de escolher. No centro operário, a sua fama crescia, querido dos patrões burgueses e dos operários irmãos dos spartakistas da Alemanha. Foi eleito deputado por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — a quem atacou logo, pois para a futura eleição o presidente seria outro. A sua ascensão só podia ser comparada à dos balões. Antenor esquecia o passado, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente.


Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País do Sol estavam na dificuldade de concordar no nome do novo senador, que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Antenor era cotado. Então Antenor passeava de automóvel pelas ruas centrais, para tomar pulso à opinião, quando os seus olhos deram na tabuleta do relojoeiro e lhe veio a memória.

— Bolas! E eu que esqueci! A minha cabeça está ali há tempo... Que acharia o relojoeiro? É capaz de tê-la vendido para o interior. Não posso ficar toda vida com uma cabeça de papelão!

Saltou. Entrou na casa do negociante. Era o mesmo que o servira.

— Há tempos deixei aqui uma cabeça.

— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.

— Ah! fez Antenor.

— Tem-se dado bem com a de papelão? — Assim...

— As cabeças de papelão não são más de todo. Fabricações por séries. Vendem-se muito.

— Mas a minha cabeça?

— Vou buscá-la.

Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.

— Consertou-a?

— Não.

— Então, desarranjo grande?

O homem recuou.

— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das idéias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.

Antenor ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.

— Faça o obséquio de embrulhá-la.

— Não a coloca?

— Não.

— V.EX. faz bem. Quem possui uma cabeça assim não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.

Mas Antenor era prudente, respeitador da harmonia social.

— Diga-me cá. Mesmo parada em casa, sem corda, numa redoma, talvez prejudique.

— Qual! V.EX. terá a primeira cabeça.

Antenor ficou seco.

— Pode ser que V., profissionalmente, tenha razão. Mas, para mim, a verdade é a dos outros, que sempre a julgaram desarranjada e não regulando bem. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique V. com ela. Eu continuo com a de papelão.

E, em vez de viver no País do Sol um rapaz chamado Antenor, que não conseguia ser nada tendo a cabeça mais admirável — um dos elementos mais ilustres do País do Sol foi Antenor, que conseguiu tudo com uma cabeça de papelão.”









 Tarô: Illuminati Sola Busca




        Bem, fico por aqui. Agradeço muito as horas de papos e de estudos que foram gastas enfrentando vários Pagens de Espadas durante o ano passado (2012). 
      Também agradeço, à Jana Janine, por me apresentar a Arya Stark, do Game Of Thrones, uma personagem única e admirável! 
          Ao Mark Elliot Zuckerberg, por "Pagianespadizar", a vida virtual!
          E, a Glauber Lemos, por permitir que o Tarô esteja em minha vida!



                                                    
  

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A minha querida Rainha de Espadas


A Rainha de Espadas

Andre Kadanr



"Liberdade é pouco, o que eu almejo ainda não tem nome"

(Clarice Linspector)



   Rainha de Espadas de Alimomo


        É com muito orgulho, que escrevo sobre o perfil de uma mulher que marcou minha vida! Cleusa Rosa Soares, foi primeiramente, filha de Marieta Rosa Soares, uma mulher íntegra do interior do Rio de Janeiro, que apaixonada por seu namorado, Barulho Soares, foi raptada à cavalo e trazida para a cidade do Rio.
Mãe aos seus dezessete anos de idade, enfermeira, líder comunitária, uma espécie de "sacerdotisa cristã", que desde cedo, manteve sua fé e imponência em livrar as mentes assoladas por "demônios", ou seja, cultos de libertação. Cuidou de inúmeras crianças de rua em sua própria casa, os educou e os entregou ao serviço militar sem o menor apego. A única coisa perceptível era seu orgulho em contar seus feitos e criticar a sociedade por tanta falta de solidariedade.
Criou seus sete filhos às custas da loucura dos pacientes do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba de Niterói. Nunca foi aquela mãe que meus tios gostariam de ter, mas uma perfeita avó.
        Cleusa, descendente de portugueses e italianos, era uma mulher muito bonita, com cabelos lisos e muito fino, com um testa pequena, mas bem desenhada e com entradas, como se fosse um homem, porém, jamais teve aparência masculinizada.


Joana D'arck


        Dona de um temperamento analítico e sagaz, crítico e indomável era capaz de de manter a atenção de todos em seus discursos, era chegada a falar - isso era mesmo. Não suportava mentira. Tinha verdadeiro orgulho em ir às urnas votar e falar em política, como criticava a politica! Falava o Português e era apaixonada por línguas estrangeiras. Aliás, um de seus grandes sonho era ser poliglota. Aprendeu um pouco de Alemão em casa, com um dicionário que era de seu avô Barulho, à quem ela tinha total adoração. Um de seus lemas era: “Manda quem pode e obedece quem tem juízo!”, ditado popular passado por seu avô.

        Dona Cleusa, assim era conhecida a minha Rainha de Espadas particular e não pensem que era um doce de mulher, muito pelo contrário, era temida por todos do bairro e por “bocas miúdas”. Bem, à miúde, chamavam-na de “Dona Encrenca”. Sim, ela era a Senhora dos Desaforos, não falava com quase ninguém do bairro. Onde havia uma confusão, lá estava ela pronta para tomar as dores alheias e, acabar tomando para si a causa e, virar A heroína com autoridade na situação. Lembro-me, de um dia que, um vizinho veio às pressas para me contar que tinha a encontrado dando uma lição de moral em um assaltante em pleno centro da cidade. Quando tinha algo em mente era uma águia para executar seu raciocínio rápido e lógico. Manipuladora a todo vapor, não sossegava enquanto tudo estivesse em perfeita ordem e conforme sua vontade, mesmo que para isso, tivesse que sacrificar outros ao seu redor.
        Piedade nunca foi sua virtude, sempre preferiu a justiça, mesmo que a sua própria.


                                               Marie Curie



Ela, a Rainha de Espadas, amou isso com certeza, mas um único homem chamado, José Rodriguez Soarez, meu avô, no entanto esse amor durou o tempo do primeiro e segundo filho, meu pai Murilo Rodriguez, o primeiro e, minha tia Marília, que aos seus doze anos de meu pai, ela viveu a separação e o abandono de meu avô, que literalmente, foi viver um grande amor. Depois da separação minha Rainha de Espadas, ficou de luto e como era dotada de um lealdade inabalável, ficou inconformada pela falta de consideração por parte de meu avô. Ela sempre respondia as amigas com um tom de ranger de dentes, “Não sou viúva, mas estou de luto!”. Luto por um marido, sim, marido, pois ele nunca voltou, nem para fazer a separação legal.
        Ela, minha Rainha de Espadas, depois de 8 anos casou-se com Pedro Pereira, um Pastor, mulato, formado em Teologia na cidade de Niterói/RJ. Com ele, teve cinco filhos, contudo, ela sempre foi a Chefe da casa e quem ditava às ordens. Pedro, era adorado pelos filhos e, ela, era tida bom a Bruxa Rabugenta, que torturava os filhos. O segundo casamento, sempre foi assolado pelo fantasma de José Rodriguez, o seu grande e eterno amor, que até então, para ela ele foi o perfeito homem de sua vida, nunca ouvi ela falar nada além de elogios a respeito de meu avô.



                                                                         Maria Quitéria




        Depois de 15 anos de casamento com seu segundo marido, a loucura bate à sua porta. Pedro surta e, desenvolve turbeculose. Sua vida de esposa, passa para ser de "mãe" novamente. Acostumada com a loucura, ela tratou de sua doença até a sua morte, que durou 13 meses.
        Passou então a manter sua família com seu trabalho e suor do Hospital. Os filhos, nessa época, ficavam com minha adorável bisavó, Marieta, que até o dia de sua sua morte, todos da família a chamava de Mãe. E, minha Rainha de Espadas, era chamada de Mãe Cleusa. Nunca, nem eu e nem ninguém conseguiu fazer uma festa para ela de comemoração de aniversario, simplesmente porque ela saia de casa para ver as amigas e, quando voltava, justificava-se dizendo "detestar festas de aniversário". Nunca acreditei que ela fosse ver as amigas - para mim ela passava só, viajando por aí à fora. Tinha paixão por viagens, e sempre, fazia amigos, que nós da família não conhecíamos. De vez enquando, era comum eu atender telefonemas de pessoas que eu nunca tinha visto e vê-la falar por horas no telefone - todos ficávamos com aquela cara de curiosidade, olhando um para o outro.
        Aos seus sessenta anos, sua memória, personalidade e caráter foi se perdendo, àquela mulher, autoritária deu-se lugar ao esquecimento, agora uma velha amiga e companheira, se faz presente em sua vida, o Mau de Alzheimer. E, aos sessenta e seis, ela nos deixa, por complicações de sua doença.



                                                                     Rainha de Espadas   Shirl Sazynski

Com minha avó, aprendi muita coisa, aprendi a ser resistente e a não ter medo de conflitos.
Aprendi que não precisa usar máscaras para viver, ser autêntico é a melhor opção e a mais justa comigo mesmo.
Independência é fato e necessidade fisiológica.
Aprendi a ser frio quando e necessário e ser caloroso quando é propício.
Aprendi que amor é algo valoroso e que apesar de tantos desenganos, cada uma ama a sua mameira e espaço interno.
Aprendi a racionalizar minhas emoções e ser cruel para a crueldade. Aprendi que perdão não existe, até que me paguem o dano causado, mesmo que com o tempo e o esquecimento.
Aprendi que obediência e servidão é aprisionamento de alma.
Aprendi que Rainhas de Espadas não são viúvas, apenas estão de luto por sociedade morta e sem coragem de dar a cara a tapa e assumir as consequências de seus atos.

Fico por aqui, com minha Rainha de Espada e seu corte que nunca, nunca cicatriza...


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O complexo Rei de Espadas


O “Complexo” do Rei de Espadas


André Kadanr



Do Imaginário nasce tanta riqueza de informação que ultrapassa o sagrado Mito e nos toma como um complexo medonho – ou uma verdade provisória – quase como um segredo. Através do simbolismo que será mostrado no Arcano Rei de Espadas, podemos reconhecer os verdadeiros movimentos escondidos ou, quem sabe, velados. Os convido a destelhar ou tirar sua armadura, para olhar dentro de cada pessoa que assuma uma postura de Ordem Social perante sua cultura.
Quem é esta figura emblemática que assume uma condição aparentemente rígida e segura? Ele, este homem complexo – Rei de Espadas – sempre engajado nas causas sociais, defensor ferrenho da ordem, da moral e, também, do Direito. E não se enganem, pois este homem sabe fazer acontecer seus pensamentos agudos como o fio de uma lâmina. Dotado de uma perspicácia alucinante, é capaz de dominar todos os pensamentos “fundantes” da lógica da mente. Com um pensamento rápido e crítico ele se impõe e se destaca por um brilhantismo que beira a perfeição racional, por se tratar de um representante da parte masculina do ar. Ou seja, isso o garante tremenda força na razão. E escrever sobre este Arcano me ocorre como um grito de misericórdia, um poema de Álvaro de Campos, “Ultimatum” (1917), declamado por Maria Bethânia, que ainda, nos dias de hoje, as palavras atuam de maneira eficaz. Contudo, tomo o poema como uma aclamação do Rei de Espadas aos seus representantes:



Destelhando seu reinado personificado


Figura 1: Tarô The Old Path

Em minha experiência como tarólogo, pude encontrar várias pessoas que depois de um papo me confessavam que suas infâncias foram bem turbulentas. Cresceram num ambiente familiar de fundamentalistas, de guerras declaradas, religião e carreira militar. Se caso não houvesse a carreira militar – mesmo sendo o sonho da família – permanecia o desejo de seguir a carreira, mas sempre em um ambiente diplomático, do tipo “Cuidado! Olha as crianças”. Com isso tiveram que despertar precocemente suas faculdades mentais de entendimento do que está por trás das aparências sociais.
A infância desta criança Rei de Espadas, falante sem ser tagarela, entra sempre com a lucidez e com o pensamento claro e lógico. Durante a adolescência pode ser tachado como o “intelectual” e “frio”, o “distanciado” de tudo que atua como perverso. Transgredir para ele seria como um divertimento, apenas para sentir o impacto que isso causa. E, também, para experenciar como as leis sociais são tolerantes. Reis de Espadas são atraídos por arte que expressa o poder da mente e a agilidade calculista. Gostam de jogos de estratégias e matemáticos. Conheci alguns que eram alucinados por literatura de grandes Estadistas e pensadores. Já na fase adulta, as coisas tomam uma característica mais séria, aquela jovialidade se perde com facilidade e resta astúcia de uma índole fria, irônica e diplomática, que muitas vezes chega à superficialidade emocional. Seu interesse é o poder, o status, a liderança, o comércio, o conselho, a análise, a política e os ideais.


Um rei é para os outros



Figura 2: Tarô Fenestra

Fonte: http://www.albideuter.de/html/fenestra_63.html


E no relacionamento afetivo? Prepare-se para ter segurança e influência, ele pensa em tudo nos mínimos detalhes, é galanteador e cordial, conquista facilmente pela persuasão e jamais esquece datas. Dono de um caminhar incomparável, ele desfila postura e elegância, sempre fiel a tradição do armário clássico e do moderno retrô. Adora dar presentes caros e jantares com amigos em ambiente públicos – em casa nem tanto. Porém, é distante do calor humano e pode passar sozinho por horas, simplesmente porque precisa amadurecer uma ideia. Sexualmente, é mental e rápido, espirituoso, do tipo que curte falar, preferem um bom papo! O cotidiano sexualmente falando, é convencional e ditador. Cheio de normas. Se quiser ganhar um deles, diga-lhes que são perfeitos e que tem fantasias relacionadas aos seus ideais e os acompanhe sempre! Com certeza as coisas ficaram mais quentes! E nunca se esqueça de agradecer por tudo.






Competências ou habilidades

Figura 3: Tarô Visconti Sforza

Fonte: http://www.albideuter.de/html/visconti-los_42.html


Estamos de frente para um líder nato e com todas as potencialidades de quem nasceu para o comando. Tem o raciocínio intrinsecamente ativo e sabe explorar um tema até seu íntimo. Então é comum encontrar essa figura como delegado, juiz, advogado, diplomata, oficial de justiça, líder comunitário, Estadista, comunista, pastor, reitor, acadêmico, filósofo, negociador, gerente, administrador e até segurança.
Os Reis de Espadas, quando dispersos, são verdadeiros “Charlatões da sinceridade” e gozadores, como diz Álvaro de Campos (1917) em seu poema. Quem direciona o Rei de Espadas é O Imperador e A Justiça, mas se ele cai nas ondas do Diabo, teremos aí um “semideus” absoluto, intolerante e repressor, ou seja, déspota!







Total ao objetivo adequado


Talvez seja conveniente falar das investidas mais claras que levam um complexo Rei de Espadas ao equilíbrio, a satisfação e consciência ampla e digna de uma personalidade empírica por excelência. Espirituosamente. Assim deve ser a mente sóbria do Rei da Razão, para que seja harmoniosa, limpa e funcional. Abandonar o medo a um antigo credo – “a melhor defesa é o ataque” – e substituí-lo pelo entendimento de que a melhor defesa é a exposição de seus verdadeiros sentimentos, por mais que seja frio. De nada adianta declamar perspicácia sem se dar verdadeiramente aos outros e receber dos mesmos a parte que falta a essa personalidade, que implica o todo para o tudo. Solidariamente. Reconhecer os objetivos no qual a vida o impõe de redirecionamento de paradigmas.
Aqui me despeço em agradecimento à todos os que me ajudaram a caminhar como um Louco por tantas horas de minha vida. Ao Adash Van Teufel, pela indicação precisa da música Pode agradecer do Jay vaquer. Aos meus amigos do grupo Tarologistas do Facebook e, também, ao Emanuel J. Santos, pela confiança.
Um eterno e reverberado abraço.

Figura 4: Tarô Golden